FREUD - Narcisismo das pequenas diferenças.
“(…). Segundo Freud, nosso ego é espontaneamente inclinado a rechaçar críticas, reprovações e discordâncias feitas por iguais em pertença social, religiosa, étnica, política etc.

No caso da credulidade, essa tendência se torna hiperestésica. O mais curioso, porém, é que o julgamento daqueles que são notoriamente desiguais, em geral, incomoda pouco o sujeito crédulo. O fosso que existe entre as crenças dos dois faz com que ele trate o opositor como um ignorante ou um inimigo cuja opinião deve ser desqualificada. Outra coisa é a relação com os iguais em crenças.
Aqui, o pretexto da ignorância não faz sentido. O opositor conhece tanto quanto o crédulo aquilo em que ele acredita. Para o crédulo, portanto, a dissidência só pode ocorrer por motivo de má-fé, competição, desejo de humilhá-lo ou qualquer outro sentimento do mesmo teor.
A dúvida do parceiro de crença é interpretada como um acinte, uma tentativa de rebaixar o valor daquilo que ele valoriza. Em suma, como um ataque à sua imagem narcísica. O resultado é o revide raivoso, as rivalidades fraticidas, que, no mais das vezes são vistas como despropositadas, incompreensíveis ou ridículas por aqueles que não partilham as crenças dos litigantes.
Para a justiça, isto é letal, pois o crente ingênuo nunca se satisfaz em “fazer justiça a si”. Sempre racionaliza o autointeresse como sendo um dever universal de todos. Ao fazer isso, obviamente, se choca com as regras do funcionamento do consenso e com o respeito à perspectiva do outro. A saída é o desprezo pela persuasão e o emprego da violência para trazer os incrédulos e os desgarrados para o bom caminho”.