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SENTIDOS DO AMOR (PERFECT SENSE): O REFLETIR SOBRE SENTIR A MAIS E A MENOS NA ATUALIDADE

Pense em duas pessoas que se conhecem, se envolvem, mas enfrentam dificuldades em unir seus sentimentos, pois a sociedade mundial está sendo atingida por uma pandemia, que não possui explicação e faz com que nossos sentidos desapareçam. O filme reflete como estão as nossas relações atualmente, nos forçando a atentar para as nossas interações com as pessoas e o mundo, nos induzindo a reflexões para além do amor.

Se formos procurar a sinopse e crítica do filme na Internet, iremos encontrar as mais variadas opiniões: de filme apocalíptico a provocador de fortes reflexões sobre as relações atuais. Acontece que, independente de qualquer opinião que classifique o filme, assisti-lo é mergulhar em um turbilhão de sentimentos e sensações. É entrar em conexão com aquele lado mais profundo do nosso ser, com nossos medos, traumas, angústias, com aquilo que nos desconserta e demora muito tempo para nos reorganizarmos novamente.

Bom, vamos à sinopse (haverá spoiler): Susan é uma cientista e Michel um talentoso cozinheiro. Ambos se conhecem e começam a se relacionar em meio à turbulência de uma possível pandemia, sem explicação aparente, no qual as pessoas possuem sintomas específicos (reações), e posteriormente, ocorre à perda dos sentidos. O primeiro sentido a se perder é o olfato, onde a pessoa começa a sentir-se com um medo que se manifesta sem estímulos internos ou externos, e se agrava para momentos de choro compulsivo, sentimentos de luto, até que em dado momento, se perde o sentido. No filme, classificam como Síndrome Olfativa Severa – SOS (SOS – mera coincidência?!). Adiante, sentem uma compulsividade alimentar por algo do gênero alimentício ou não; com isso há a perda do paladar. Depois com a manifestação de raiva, ira, ódio por si mesmo e os que estão ao redor, se perde a audição; e por fim, ocorre uma enxurrada de euforia, contemplação da felicidade, necessidade do outro, e então a perda da visão.

Um tanto questionador ter “sobrado” para a humanidade sem alterações: o tato - único sentido que não foi afetado. Percebe-se que o filme não deixa de ter um “que” apocalíptico no sentido simbólico da palavra, durante 1:32:11hs de filme, se faz um apelo para todos nós: em um mundo onde estamos cada vez mais distantes, precisamos nos sentir mais. Veja bem, o filme nos mostra como estamos nos comportando nos dias de hoje, como estão nossas relações internas/externas, pessoais e sociais, apresenta nossos medos e as dificuldades em lidarmos com aquilo que pode nos causar dor.

Hoje em dia, o ser humano corre de forma acelerada de tudo aquilo que pode causar angústia. Parece que estamos diminuindo nossa capacidade de enfrentarmos dificuldades, por exemplo, quando alguma situação está fatigante tendemos a nos afastar. Às vezes, o modo como nos encaramos determinadas situações será com as famosas “válvulas de escape”, seja com viagens, festas, entre outros meios para o qual nossa atenção é desviada e faz com que não entremos em contato com aquilo que dói. A diferença entre o filme e a nossa realidade é que no filme não se tem para onde fugir, você será afetado por essa “pandemia”, no nosso mundo real ainda se tem como escapar. A “chave-mestra” está em qual caminho iremos seguir, de encarar as situações ou fugir.

Muitas vezes, nosso cotidiano agitado nos auxilia em fugirmos daquilo que não queremos sentir, afinal, quem nunca sofreu uma desilusão, teve aquele momento de “fossa”, e aproveitou para mergulhar de cabeça em um projeto novo, ou na pesquisa que está atrasada, ou encontra outras tarefas a realizar?! E nas horas que não estamos trabalhando? Nas horas que deveríamos reservar para nós? Estamos preenchendo com vícios ou simplesmente fechando nossos corações para não sentir.

Os vícios são uma válvula de escape para esses vazios da alma, e nos servem para que, ilusoriamente, pensemos que estamos curados ou imunes das angústias que nos consomem. O ato de nos fecharmos vai de encontro as nossas dificuldades de conseguirmos superar nossas desilusões, e por isso, generalizamos determinados sentimentos e pessoas, como forma de culpabilizar nosso coração pelas dores emocionais.

Antes de o filme iniciar com a presença dos atores, passa momentos da nossa sociedade atual e de como estamos vivendo. Percebe-se que há uma liquidez em tudo, ou seja, desde o trabalho até relações interpessoais. Estamos ligados no botão automático e não percebemos isso, estamos vivendo um dia atrás do outro e questiono se estamos valorizando cada presença, detalhe, momento da nossa vida. Será que já fomos afetados pela mesma pandemia do filme e não nos flagramos? O quanto será que estamos sentindo?

Acredito que seja esse o ponto certeiro do filme. Entrar no coração das pessoas que estão assistindo e fazer esse apelo. O filme não retrata apenas o sentir no amor, e sim, em todos os aspectos da nossa vida. Em valorizarmos cada gosto, cada barulho, cada cheiro, cada paisagem. Tente imaginar o quão sufocante deve ser viver em um mundo, onde você sente as pessoas apenas pelo toque? Ou melhor, pense na mera possibilidade de não sentir mais o gosto daquela lasanha deliciosa da sua mãe, e sentir o perfume do seu amado(a), não escutar uma música que acalme a alma, não enxergar ninguém e conviver apenas com a escuridão externa e interna. Será que sobreviveríamos?

Quantas indagações o filme provoca do início ao fim? Quantas comparações entre a realidade cinematográfica e o modo como as pessoas se comportam atualmente? Que o famoso clichê “antes tarde do que nunca” se concretize na interação das nossas relações. Que possamos acordar para a vida, para as relações que nos cercam, para tudo aquilo que temos.

Por fim, o filme termina com uma tela preta e a seguinte narração: “(...) está tudo escuro agora, mas eles sentem a respiração um do outro (...)”. Que nossas relações não cheguem ao ponto de serem sentidas apenas por respirações, que possamos nos libertar dos medos e crenças que nos aprisionam, e que possamos sentir da alma para o nosso coração, para o mundo e tudo aquilo que o compõe.

© obvious: http://obviousmag.org/felling/2016/sentidos-do-amor-perfect-sense-o-refletir-sobre-sentir-a-mais-e-a-menos-na-atualidade.html#ixzz46O37R1cp Follow us: @obvious on Twitter | obviousmagazine on Facebook

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